Os mercados internacionais de matérias-primas já sofriam com instabilidade desde a pandemia de covid-19. O conflito Rússia versus Ucrânia – desencadeado em fevereiro deste ano – aprofundou a crise sobre as cadeias de suprimentos, impactando fortemente o preço da energia.

Rússia e Ucrânia produzem e exportam energia e alimentos. A guerra interrompeu o fluxo comercial já estabelecido e desviou parte da demanda de importação de energia da Rússia para outros mercados. O petróleo e o gás natural atingiram preços de US$ 130/bbl (média entre o Brent, o WTI e o Dubai) e US$ 13/mmbtu (para o gás natural dos EUA), respectivamente.

A alta resulta de uma bolha especulativa, que inflacionou o petróleo e o gás; para piorar, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus parceiros externos (incluindo a Rússia) recusam-se a aumentar a produção de petróleo bruto.

O mercado de energia não é o único afetado: a soja, o alumínio e o níquel têm apresentado tendências de alta nos preços. Todos afetados, direta ou indiretamente, pelo conflito Rússia versus Ucrânia.

Impactos na América Latina

As ramificações desses eventos impactam as matrizes produtivas das economias globais por meio do aumento dos custos industriais (especialmente de alimentos, construção, petroquímica e transporte). Mas não é só isso!

Paralelamente, há um aumento quase proporcional dos preços internos. Ou seja: o consumidor começa a sentir no bolso os efeitos da inflação, que impacta diretamente os países pobres e emergentes.

Na América Latina, onde a maioria dos países vinha registrando uma aceleração do custo de vida desde o primeiro semestre, a taxa de inflação média poderá ultrapassar os 12% até o final de 2022.

Segundo um estudo do Banco Mundial, a implementação de políticas de segurança energética e alimentar pelos governos, visando mitigar o impacto da crise na economia doméstica, é insuficiente se os problemas subjacentes não forem resolvidos.

Isto é particularmente verdadeiro na região latino-americana, pois os orçamentos públicos deprimidos e os problemas econômicos pré-existentes (inflação, baixo crescimento, altos níveis de pobreza etc.) são profundamente impactados pelos eventos conjunturais.

Com a aceleração dos preços internacionais, é provável que os preços domésticos continuem sua trajetória de crescimento nos próximos meses, podendo atingir níveis médios recordes em toda a América Latina.

Evidenciam-se assim os riscos de a América Latina atrelar seu crescimento à volatilidade dos preços das matérias-primas e do capital estrangeiro. A região precisa articular um plano de desenvolvimento sustentável.

Para começar, os recursos naturais podem ser usados não mais como commodities, mas como insumos para o fomento de setores mais competitivos. Outro ponto relevante seria priorizar a energia sustentável, baseada em fontes limpas.

Por mais impactos que eventos como a guerra entre Ucrânia e Rússia possam exercer sobre os preços mundiais de energia, a América Latina pode ganhar autonomia e crescer de forma mais independente.

  

  

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