As tensões geopolíticas, a dívida pública global, o aumento da resistência aos planos de descarbonização e a necessidade de garantir o fornecimento de energia, têm condicionado a ação dos governos e das empresas na aplicação de mudanças que possam reduzir a emissão de gases com efeito de estufa. Esta é uma das principais conclusões do estudo da KPMG ”Net Zero Readiness Report”, que avalia o grau de preparação das organizações para o cumprimento da meta net zero a nível global. 

Apesar de alguns casos de sucesso recentes, como o aumento da produção de energia com baixo teor de carbono por parte de alguns dos países considerados mais poluentes – como os EUA, a China, o Brasil, o Canadá ou a União Europeia –, o progresso das empresas é travado pelos custos de descarbonização. 

Os governos, as empresas e a sociedade em geral devem continuar a tomar medidas para combater as alterações climáticas. É expectável que surjam novas correntes de pensamento entre as comunidades locais e os interesses globais, mas se quisermos realmente dar passos significativos para a redução dos gases com efeitos de estufa, ao ritmo que o planeta necessita, assegurando ao mesmo tempo um aprovisionamento energético estável, é necessária uma atenção muito maior para este tema. Isto inclui consciencialização do poder político, inovação técnica e tecnológica e uma educação da sociedade sobre as mudanças que são necessárias nos nossos comportamentos de consumo e de investimento.

Pedro Cruz
Partner de Auditoria

Através de conversas com especialistas locais em alterações climáticas de 24 geografias, em seis setores de negócio, o estudo destaca os setores que estão a liderar o progresso tendo em vista a redução dos gases com efeito de estufa.

Em certas geografias e setores, o impacto dos projetos de redução do carbono na vida selvagem, na biodiversidade e nas comunidades locais está a provocar um aumento de conflitos entre ativistas pela preservação da natureza, causando tensão entre os projetos de energias renováveis e o ambiente local.

Ao nível de cada país, os progressos em curso na implementação de medidas de descarbonização são atualmente dificultados pela ideia que estas medidas são de elevado custo e de impacto negativo na qualidade e no estilo de vida das comunidades.

Nas economias em rápido crescimento, o aumento exponencial da procura por energia está a desencadear investimentos na produção de energia com baixo teor de carbono e de combustíveis fósseis, sendo pouco provável que alguns países – como a Índia – atinjam o net zero até 2070, enquanto que na China se prevê inclusivamente que o consumo de carvão aumente até 2025.

O progresso na descarbonização varia consoante o setor de negócio. Apesar dos níveis de adoção em termos mundiais ser muito diferente, o crescimento significativo das vendas de veículos elétricos retrata o sucesso global da rápida descarbonização de alguns setores. No entanto, por oposição, nos setores da aviação internacional e do transporte marítimo, o ritmo da mudança já é consideravelmente mais lento, e o objetivo de atingir o net zero até 2050 depende de aumentos significativos na produção de combustíveis sustentáveis para a aviação, bem como de incentivos governamentais.