Cerca de 85% dos executivos relataram atrasos substanciais e apenas 36% estão confiantes que as energias renováveis irão substituir os combustíveis fósseis até 2050.

Cerca de 85% dos executivos relataram atrasos substanciais e, em alguns casos, até mesmo abandono de projetos na área das energias renováveis, devido aos desafios atuais do mercado, e apenas 36% estão confiantes que as energias renováveis irão substituir os combustíveis fósseis até 2050. Estas são algumas das conclusões do estudo da KPMG “Mudar a maré na expansão das energias renováveis”, realizado recentemente junto de gestores, no mundo inteiro.

Recentemente na COP28, foram reassumidos compromissos quanto às metas climáticas, no âmbito do acordo histórico para a transição de combustíveis fósseis para fontes energéticas alternativas.

Em 2015, cerca de 200 países em todo o mundo subscreveram o Acordo de Paris, o qual foi desenhado com vista a manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C e limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Para alcançar estes objetivos é necessário reduzir em 50% as emissões de gases de efeito de estufa até 2030 e atingir a neutralidade carbónica até 2050, o que depende, entre outros fatores, de um aumento da capacidade renovável a nível mundial até ao final da década, complementando o atual cabaz energético, em que as fontes de energia tradicionais continuam a desempenhar um papel significativo para garantir a estabilidade e a fiabilidade do aprovisionamento energético. Os objetivos são ambiciosos, o compromisso é notório, mas o caminho para atingir os desígnios apresenta ainda muitas barreiras.

A maioria dos promotores de energias renováveis enfrenta vários desafios que podem colocar em risco o rápido crescimento das energias renováveis. Alguns destes são bem conhecidos, como sejam infraestruturas e flexibilidade inadequadas das redes, capacidade insuficiente de armazenamento de energia e atrasos nos processos de planeamento e licenciamento.

Adicionalmente verificam-se questões decorrentes de preocupações com a natureza e a biodiversidade, a crescente ênfase na licença social para construir novos projetos e desafios de acesso ao capital necessário para financiar estes projetos.

O financiamento da transição energética implica o acesso a capital. Recentemente, as taxas de juro elevadas e a inflação na cadeia de abastecimento, incluindo o preço das principais matérias-primas usadas nestes projetos, bem como dos custos de transporte e a redução dos preços nos mercados grossistas tiveram impactos nas avaliações dos projetos dificultando a atratividade dos investimentos nestes projetos.

Existem diversas respostas possíveis a este desafio e à necessidade de escalar as renováveis, aumentando a atratividade dos projetos, tais como:

i) aumentar as ofertas de projetos integrados de renováveis com soluções de armazenamento,

ii) escalar o investimento em projetos eólicos offshore,

iii) alargar os mercados para as renováveis incluindo outras fontes de energia renovável como o hidrogénio, a amónia e o metanol,

iv) planear estrategicamente as ligações às redes,

v) implementar processos e políticas que simplifiquem os processos de licenciamento e

vi) providenciar suporte específico à cadeia de abastecimento.

Em conclusão, os obstáculos descritos são significativos e colocam verdadeiros desafios e riscos para o progresso crítico da transição energética. De notar que ao longo da última década a indústria demonstrou a sua capacidade para contornar, ultrapassar ou superar obstáculos difíceis, sejam guerras comerciais, uma crise energética, conflitos geopolíticos ou uma pandemia global.

Mas a identificação das barreiras à expansão das energias renováveis permite uma compreensão abrangente, para uma melhor definição de políticas e tomada de decisões informadas por parte dos agentes do mercado de modo que as energias renováveis atinjam o seu potencial e gerem valor económico.

Artigo de Susana Abreu, Partner de Auditoriapublicado a 26 de janeiro de 2024, no ECO.