Você é um auditor experiente e, nos últimos anos, dedicou-se ao tema de Assurance em ESG. Agora, lidera toda a área de Assurance da KPMG no Brasil. Como você acha que esse tema se desenvolverá nos próximos anos?

Por toda essa questão de transparência e prestação de contas que as empresas precisarão dar aos múltiplos stakeholders em torno da agenda ESG, a asseguração dessa “prestação de contas” é (e será mais ainda no futuro próximo) primordial para que as empresas possam demonstrar os seus propósitos e engajamento genuníno, permitindo que os stakeholders possam comparar as práticas de uma determinada empresa com outras e, com isso, ter a possibilidade de avaliar as organizações que ainda praticam o greenwashing e o socialwashing.

Ademais, por tudo que temos visto de regulamentação – já em vigor no Brasil pelo Banco Central (Bacen) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – e por tudo que vem pela frente – com o International Sustainability Standards Board (ISSB), European Financial Reporting Advisory Group (EFRAG) e Securities and Exchange Commission (SEC), tanto no País como ao redor do mundo, as empresas terão que contemplar, em suas demonstrações financeiras e/ou outros instrumentos de interação com os stakeholders, diversas divulgações e prestação de contas; em determinado momento, isso irá requerer também a chancela dos auditores externos.

Quanto de ESG estará presente nos processos de Assurance?

Não há dúvida de que, no futuro, esta será uma vertente muito importante para a KPMG. Como mencionado na questão anterior, haverá um momento em que as empresas precisarão prestar contas aos seus stakeholders e, num processo de transparência, a chancela do auditor será crucial. Obviamente, prestamos diversos outros serviços de asseguração na vertente de Compliance Regulatório, bem como trabalhos voluntários de asseguração, mas acreditamos que, nos próximos três a cinco anos, mais da metade do que planejamos para os projetos de asseguração advirá de ESG. Outras demandas que devem crescer muito nos próximos anos serão a asseguração dos inventários de emissões de gases de efeito estufa (GEEs) e a asseguração dos compromissos públicos e indicadores que dão lastro para captações financeiras.

Isso porque, para que possam definir suas estratégias em suas metas de redução GEE ou ser “Net Zero”, as empresas precisam de um baseline, que é justamente o inventário das emissões no “momento zero” desses compromissos para, posteriormente, se definir o plano estratégico que dará lastro a esses compromissos. Muitas empresas necessitarão de funding para financiar esses projetos. Temos visto uma série de programas de incentivos e captações (green e carbon bonds), para os quais haverá a necessidade de se assegurar que as empresas estão cumprindo com suas metas de redução e/ou com os indicadores atrelados às captações financeiras.

Como as empresas devem se preparar para essas mudanças?

Entendo que, como primeiro passo, as empresas devem fazer uma avaliação do seu “propósito” (por que a empresa existe? Qual sua contribuição para a resolução de um problema real da sociedade ou do planeta?). Depois que isso for feito de forma genuína, é preciso incorporar os aspectos de ESG na sua estratégia e na avaliação de riscos (obviamente conectados com o propósito). Na sequência, avaliar eventuais impactos nos modelos de negócios, controles e processos e implementar indicadores que possam dar tracking à entrega estratégica de ESG. Por fim, como mencionado anteriormente, assegurar essas informações e esses indicadores para os diversos stakeholders no entorno das empresas.

Outro aspecto muito importante é reconhecer que, em muitos casos (talvez em todos), haverá necessidade de contratar profissionais que muitas empresas ainda não possuem ou complementar com skills os quadros existentes. Isso porque, ao falarmos de ESG em sua amplitude, ou mais especificamente em relação a riscos climáticos, ambientais e físicos (temas que estão sendo tratados nos primeiros pronunciamentos que devem ser lançados pelos reguladores), estamos tratando muitas vezes de dados não-financeiros ou cálculos e estatísticas que requerem um conhecimento mais profundo da temática.

O Assurance pode contribuir contra o chamado greenwashing? Se sim, como?

Definitivamente sim. Atualmente, o principal instrumento de prestação de contas aos stakeholders tem sido os relatórios de sustentabilidade. A empresa escolhe um determinado framework (GRI, TCFD, Relato Integrado, entre outros) e elabora esse relatório. No Brasil, por não existir a obrigatoriedade (ainda) de se elaborar um relatório de sustentabilidade (caráter voluntário), não há a necessidade de se contratar auditores externos para chancelar essas informações. Mesmo assim, muitas empresas já têm nos contratado para chancelar seus relatórios de sustentabilidade, pois entendem que é um caminho de transparência com o principal intuito de demonstrar aos stakeholders que elas não praticam greenwashing.

Além disso, por tudo o que virá pela frente do ponto de vista de regulamentação em relação a diversas divulgações que serão requeridas por todas as empresas, independentemente do seu porte, chegará um tempo em que os stakeholders estarão providos de diversas informações, inclusive comparáveis entre as empresas, que lhes possibilitará verificar quais organizações continuam praticando greenwashing e socialwashing. Isso poderá influenciar, dentre outros fatores: a) tendências de consumo; b) atração e retenção de talentos; c) taxas de juros em captações; d) consumidores decidindo com que marcas e produtos querem efetivamente “se associar”. Por tudo isso, me arrisco a dizer que será difícil para as empresas persistirem em adotar práticas de greenwashing. E tudo isso será corroborado pelos auditores externos, seja na asseguração dos relatórios de sustentabilidade, seja na asseguração das divulgações que serão requeridas em futuro próximo pelos Reguladores. 

 

Sebastian Soares, sócio-líder de Serviços de Asseguração da KPMG no Brasil e na América do Sul. 

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